No meu tempo é que era!

Há clichés que, por muito que o sejam, são inevitáveis uma vez por outra.

Lembro-me de no final do ensino básico as funcionárias da escola dizerem que depois do nosso ano e do seguinte, os meninos já não eram como nós. No fundo, o que elas nos tentavam dizer é que por muito rebeldes que a idade nos fizesse, se as senhoras queridas, em especial as que nos tratavam como netos, nos pediam para nos comportarmos, nós respeitávamos (em geral) e dávamos-lhes abraços. As gerações pouco depois da minha já não eram assim, já não viam nos mais velhos uma imposição de respeito, nem os tratavam com o mesmo carinho e humanidade. Ou até viam, mas de uma forma diferente da nossa, menos familiar e mais fria.
Não fazendo regra de tudo o que direi, obviamente que há sempre exceções, mas eu, que contacto de perto com pessoas dos 6 ao 20, vejo que as coisas são diferentes agora. Vejamos as médias dos exames do 6º ano, do 9º e do 10º nos exames nacionais, e pensemos no como é possível metade dos alunos com 11 anos não atingirem os valores mínimos a português, a língua que falam, e a matemática, onde tudo o que se aprende é suposto ser senso comum para todos os que frequentaram pelo menos 6 anos de escola. E o 9º ano? Na minha escola do básico os professores e os padrões de exigência não era muito bons, mas tenho a certeza que a nossa média era positiva porque, havendo bons e menos bons alunos, tirar negativa era muito grave. Agora, quase todos os alunos com quem tenho contacto, têm uma negativa na pauta, no mínimo, antes de concluírem o 9º ano. Mais, há muitos alunos, muitos mais do que na minha altura, que chegam ao final do 12º ano sem saberem o que gostariam de fazer um dia, sem fazerem ideia, sem lutarem por qualquer coisa, por qualquer nota. Eu não sou o melhor exemplo, também não sabia o que queria (acho que hoje ainda não sei ao certo), mas isso é porque gostava de muitas áreas completamente diferentes, e ainda assim fazia uma ideia. Também não sou um exemplo de estudo durante o secundário, mas precisamente por isso me sinto no direito de comparar, uma vez que chegava ao final com notas melhores do que as que vejo nos alunos razoáveis, tal como eu fui. Porque eu também não entrei no curso que decidi querer, mas ainda assim tinha outras hipóteses, bastantes, que me satisfaziam e isso não acontece com alunos de médias inferiores a 15 valores. 
No meio disto tudo, quais serão os resultados? Pessoas mais infelizes, menores níveis de exigência, profissões mais elitistas porque quem tem notas para os cursos de médias superiores são os alunos dos colégios privados e 2 ou 3 que lutaram por eles, e por aí fora. Miúdos que não sabem o que é lutar pelas coisas, em adultos não saberão ser diferentes, dificilmente ganharão aquela garra do "fui eu que fiz e estou tão orgulhoso"!
Aquela diferença entre os ricos e os pobres, a velha classe média com poder de compra e que equilibrava a economia, dificilmente voltará a existir e isto faz-me confusão, bastante confusão. 

Sinceramente, tenho mais esperança nos miúdos que têm agora 3, 4 ou 5 anos, nos que estão a nascer e a crescer agora, porque entretanto já vamos ter batido muito com a cabeça e vamos começar a tentar fazer diferente. Acho que essa geração, essa "geração touch" alcançará e encontrará um mundo muito diferente e muitas oportunidades no mundo de trabalho. 

E como eu dizia, no meu tempo é que era! No meu tempo éramos mais com objetivos definidos, mas aposto que os mais novos discordam do que eu digo. É o velho cliché e é a minha opinião que vale o que vale.

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