Quando eu for grande...

Eu já quis ser professora de educação física. Tinha 5 anos e tinha um professor chamado Paulo que me proporcionava grandes aventuras. Ensinava-me a saltar de sítios altos sem me magoar, ajudava-me a perder o medo das coisas difíceis e tinha imenso jeito para preparar circuitos que me faziam rejubilar de emoção. (Note-se que eu tinha 5 anos e que 2 anos antes decidi descer umas escadas de triciclo e partir o nariz, aventura era o meu forte.)

Entretanto percebi que nem todo o pão são rosas. No deporto, dificilmente se vive só de aulas a crianças motivadas e entusiasmadas em crescer. Vive-se de aulas com adolescentes obrigados a estar ali; ou se é um craque de alta-competição e daí vêm dores nas articulações e funções de fim de carreira. Eu não queria nenhuma dessas. Só queria fazer sempre desporto e ter a oportunidade de ficar de alguma forma associada a ele.



Quando eu vi que ser professora é tarefa dura, e me falaram do pão, fui tomando em consideração outras ideias para o futuro. Aí quis ser jornalista. Primeiro pivô, depois jornalista de rádio. Parecia-me que o caminho era por ali, até ter de escolher qual das áreas seguir no ensino secundário. Fácil! Eu quero matemática e Educação Física. Portanto, ciências ou economia. Naquele ano não havia economia na minha escola, por isso a decisão era sem dúvida ciências. Com estas certezas, o jornalismo foi ficando pelo caminho e o meu interesse por áreas com matemática, à séria, foi crescendo. 

Ora, alguém que nunca quis ser cabeleireira, nem professora primária, que passou do desporto para o jornalismo, com fascínio na matemática, precisava de alguma coisa abrangente. Ou então tirar 3 ou 4 cursos.

Vim parar a engenharia. Cumpre os requisitos. Acho mesmo que tenho alma de engenheira, espírito de desenrasco e interesse por coisas novas. Quando escolhi engenharia biomédica, perguntavam-me o que se fazia com o curso, se eram investigação. "Sim, também. Mas não é isso que eu quero. Eu vou trabalhar numa empresa ou assim." Pois, estão a ver o que eu dizia? Saiu-me o tiro pela culatra. A minha tese é investigação. E é-o porque não tinha outra hipótese, porque não interessa tanto a experiência profissional como um monte de folhas escritas. 

Eu sonhava em fazer desporto até ser velhinha, sem interrupções. Gostava de escrever crónicas (e morro de saudades das minhas escritas no ESBinho), artigos sobre temas aleatórios e assuntos do meu interesse. Gostava de ser engenheira, resolver problemas e pôr coisas a funcionar. E vou fazer uma tese em que o desporto praticado vai ser com os dedos no computador, os problemas resolvidos têm interesse prático, mas são direcionados para serem escritos num artigo. E além do artigo, na tese. Cerca de 100 páginas teóricas, com a história do princípio do mundo até hoje. 



Embora não ache que haja algo de errado em existir quem ache que em ciência as coisas tenha de avançar assim, eu não quero ser cientista, nem percebo o interesse em descrever as contribuições do meu trabalho numa estrutura rígida que passe das 5 páginas. Não compreendo o porquê de não haver a possibilidade de fazer um estágio, nem qual é a necessidade de me criarem anti-corpos quanto à minha licenciatura e futuro mestrado.

Não bastando, tenho bichos carpinteiros. Quando estou sentada durante muito tempo a fazer algo que não gosto passo-me e, invariavelmente, acabo a chorar. Têm sido esses os meus dias, entre um "tenho de fazer isto porque tenho um mestrado por fazer" e um "eu odeio isto e nem me falem na possibilidade de doutoramento".

Felizmente, no caminho até aqui percebi o quanto gosto de massagem e o quanto posso combinar o meu gosto por ajudar com o desporto (porque não ser massagista associada a um clube desportivo?). Infelizmente, ainda não terminei esse curso, mas vou fazer de tudo por acabá-lo durante o próximo ano. Além disso tenho um mega plano para não me transformar num monstro carrancudo, revoltado e frustrado com a tese, no próximo ano, que inclui a minha querida massagem.



E depois? Depois, se eu não puder ser engenheira, ajudando a resolver problemas e sem os ter de escrever artigos, eu não vou ser engenheira. Vou ser massagista, ou outra coisa que não me auto-destrua. Há por aí tantos grandes exemplos de lutadores que decidem seguir o coração e o que os faz feliz. Porque não hei-de ser um deles?

Entretanto vamos rezar para que no próximo ano eu perca esta imunidade, e que me volte a imaginar a fazer o que estudei. Sempre é uma coisa mais estável e com ordenados melhores!


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