Vida instantânea

Ontem estive em Espadaneira (mas que belo nome!). Nome de um lugar que não existe ou de fim do mundo. Até que é um bocadinho fim do mundo: de um lado da aldeia só havia o Centro Cirúrgico e casas - casas fechadas e casas abertas, mas sem pessoas à vista - e do outro uma padaria e mais casas iguais.

Eu tinha uma consulta no Centro Cirúrgico e aproveitei o meu tempo livre para ir de comboio. Gosto mesmo de viajar de comboio, mas tem as suas desvantagens. Entre elas está o não controlo de horários, de modo que cheguei 2 horas antes da consulta. Sem problema, tinha muito que fazer. Só precisava de um cafezinho com internet. Café até que havia, já internet...! Melhor: o café fazia-me lembrar Beirais, de tão rural que era, de tão típicas e locais que eram as conversas!

Falando do que interessa, eu fui a Coimbra, Espadaneira mais propriamente, porque a minha rica boca me dá dores chatas, chatas e me limita cada vez em mais coisas. O meu dentista explicou-me que só poderei resolver isto com uma cirurgiazinha, a qual me fará inchar like a baloon e me fará ficar 1 mesito de boca SEMPRE fechada. Coisa pouca, não?

O cirurgião explicou-me tudo. Explicou-me que tenho duas hipóteses: não fazer nada, afinal de contas não se morre disto, ou suportar um longo processo que, com grande probabilidade, resolverá o principal problema. O médico quis perceber até que ponto estou preparada para 2 anos de mudanças na imagem que vejo todos os dias no espelho, com mudanças para pior, em que só depois de tudo, de muitos sacrifícios é que poderei ter os resultados que procuro.

É interessante pensar que seria muito mais fácil se o processo fosse instantâneo. Seria mais fácil, pelo menos, se a partir do início só visse resultados bons. E como é sempre assim. Quando não vemos resultados sentimo-nos desmotivados, depressivos, revoltados, com vontade de desistir. No limite, com vontade de desaparecer. 

Eu sei muito bem o que isto é. Mas e se tivermos um pré-aviso? Se soubermos de antemão exatamente o que vai acontecer e as variáveis que podem falhar? Mais, quando as decisões durante o processo não dependem de nós e o nosso esforço durante o processo é apenas psicológico, acho mais fácil! 

Tanto acho mais fácil que já decidi. Já decidi que não me importo que demore 2 anos. Estou preparada para ter um desfasamento entre os meus dentes superiores e os inferiores, estou preparada para comer de seringa e de palhinha para que no final, tenha menos ou nenhumas dores, tenha os meus dentes a tocarem uns nos outros, e para ser capaz de comer maçãs e bifes!

Há sofrimentos que valem a pena. É como a comida cozinhada a lenha: demora sempre mais, mas sabe muito melhor.
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