Prova de igualdade

De que cor são os teus olhos?

O Rui fez-me esta pergunta no outro dia, depois de todos os colegas saírem. Eu desprezei, tive de o fazer. Mas, enquanto isso, fiquei a pensar e percebi o que lhe ia na cabeça nos últimos dias.

Este Rui não é capaz de movimentar as pernas como nós, não as verticaliza. Caminha sempre desenfreadamente, procurando não cair, mas deixando sempre esse receio a todos os que o rodeiam. O Rui não tem problemas cognitivos, mas tem limitações criadas pelo ambiente onde cresceu.

O que distingue o Rui? Ele nunca pensa que é diferente. Tem uma cadeira e podia simplesmente desistir de andar. Era mais fácil e nunca caía. Não o faz porque gosta de correr e cair só é mau se nos preocuparmos. É feliz a movimentar-se - não devíamos ser todos? -, é feliz quando sai da cadeira e corre atrás da bola que lhe fugiu. É sempre feliz e está algo apaixonado por mim.

O Rui passa a semana a falar de mim. Os colegas contam-me no início das sessões. Pergunta por mim quando não vou à sessão. Conta-me que faz caricaturas. Mostra-mas na semana seguinte. Sorri-me e olha-me sempre envergonhado, pelo canto do olho, desde a primeira sessão. O Rui ganhou coragem e, tentando passar despercebido, perguntou-me de que cor são os meus olhos. Era exatamente aquilo que lhe andava na cabeça nos últimos dias: como é que eu era, como é que ia fazer a minha caricatura.

O Rui é apenas mais uma pessoa, exatamente igual a qualquer outra. E a prova disso é que também se apaixona.
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