Devemos quebrar preconceitos ou incutir uma adaptação cultural?

Tenho (quase) sempre muito cuidado com a primeira impressão que causo. Penso na roupa que vou vestir, como devo usar o cabelo e que tipo de maquilhagem se adequa. Penso sempre nos sapatos que vou usar e na pertinência do decote - coisas que nem me passam pela cabeça quando estou descontraída e à vontade com a situação. Porquê? Porque vivemos numa sociedade cheia de preconceitos e causar boa impressão é a chave para uma boa comunicação. 

Se isto está errado: talvez. Mas conto-vos uma história.

Aqui, em Innsbruck há muitas famílias de refugiados e muitas turcas e romenas - por vezes confundidas pelo mesmo tom de pele. Todas elas procuram melhores condições de vida. As primeiras vêm por sobrevivência, grande parte delas têm pessoas altamente qualificadas e, embora tenham traços culturais que chocam com o lado certinho dos austríacos, são bastante educadas, falam alemão melhor do que eu e têm espírito de adaptação. O mesmo não acontece tão frequentemente com os restantes casos. Agora imaginem-se a trabalhar num serviço como a câmara municipal, onde todas estas pessoas resolvem questões burocráticas. Passam por lá todo o tipo de situações e, pelo choque cultural, as situações com um nível de civismo menor, como não esperar em filas, ou abrir portas de salas ocupadas, fazem com que se associe o aspeto físico e a forma de vestir a essas mesmas situações.

Bicicletas de uma comunidade de sírios que mora aqui ao lado.
Já me aconteceu, em duas situações, dois serviços, recusarem falar em inglês, ainda que do outro lado estivesse alguém com essa capacidade. Percebi que isso acontece por todos os casos de pessoas que não têm espírito de adaptação, com falta de civismo e que acham que morar cá é fazer um favor ao país. Então, criam-se regras que obrigam a adaptação. Não falam inglês em alguns serviços e sente-se um desprezo inicial por qualquer pessoa que lá aparece. 

Comigo, cinco minutos depois, sinto que esse preconceito foi desfeito. Possivelmente já mudam para a língua inglesa e tornam-se muito mais simpáticos e versáteis. Hoje, levei um casaco de napa, cabelo muito bem penteado e risco ao meio. Pediram-me que falasse alemão. Fiz-me entender e ainda assim mudaram para o inglês. Pelo ar sério e rezingão que o senhor tinha quando lá entrei, parece-me que as raparigas anteriores, sírias e com bom aspeto, não tiveram a mesma sorte. 

Afinal para que lado devemos pender? Aceitar a diferença e quebrar preconceitos? Ou incutir a obrigação de uma adaptação cultural?

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