Frustração

Dou explicações há quatro anos e desde aí acompanho um menino que agora tem 12 anos. Quando o conheci, percebi que as únicas dificuldades que tinha advinham do incorreto acompanhamento em casa. Não por ser de uma família desiquilibrada, apenas porque embora a escola seja dita prioridade máxima, nem sempre é realmente tratada dessa forma. E nem sequer o fazem por mal, apenas porque com eles também foi assim. Adiante. Ao longo destes anos ele melhorou, ultrapassou dificuldades e passou a tratar a matemática como um daqueles amigos por quem não morremos de amores, mas até engolimos. Houve muitas pequenas vitórias, passou os três últimos anos letivos sem negativas e, agora que a coisa começa a ser um bocadinho mais séria, não se sai bem nos momentos de avaliação. 
Fazemos mil exercícios, fazemos resumos, dizemos a matéria em voz alta, repetimos e repetimos tudo até que esteja sabido. Mas depois, quando o teste varia a forma de perguntar, ele não se safa, não sabe interpretar. E quanto a isso não sei bem o que fazer. Já lhe ofereci livros, a mãe garante que os lê e, ainda assim, a interpretação não deixa de o tramar em português, em inglês e até na matemática. É como se tivesse uma barreira que não o permitisse avançar. É frustrante para mim e para ele. É frustrante até para os professores que o acham um bom aluno até verem as notas dos testes. 
Por isto tudo, hoje tivemos uma conversa séria. Estive a explicar-lhe que é muito difícil ser bom a tudo, mas se trabalharmos muito, acreditarmos e lutarmos conseguimos. Eu, por exemplo, não sou boa a línguas, não tenho jeito, não é natural e fácil aprendê-las. Mas nem por isso desisto. Tenho de estudar mais que os meus colegas, mas consigo. Ele tem de trabalhar mais, tem de perguntar mais, insistir com os professores para o ajudarem nas aulas e nos testes. Se quiser muito vai conseguir. Eu espero mesmo que consiga ou vamos ser dois em desespero. Já acho que as gerações depois das minhas são diferentes, mais desleixadas, com menos objetivos. E parece que se reflete até num menino que trabalha bem e diz que gosta das horas que passa a estudar comigo, diz que gosta dos trabalhos de casa. 



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