Lembro-me de um casal que se conheceu no hospital e se apaixonou, em que ambos tinham movimentos corporais involuntários e com o tempo o problema intensificou-se. Por causa disso, nenhum dos dois dorme: ora porque um passa a noite aos pontapés, ora porque o outro mexe um braço sem o saber. Discutem e reclamam um com outro, constantemente, mas fazem companhia e mantêm-se um ao outro. Até ao dia em que um se torna incapacitado e deixa de poder ajudar o outro. Fica internado e, mais tarde, o outro também já não é capaz de ser minimamente independente. Não sei o fim da história, mas tem tanto de bonita como de triste. É forte. A nossa incapacidade. O amor e o companheirismo. A nossa impotência e solidão.
Depois há os manicómios, onde se internam pessoas diferentes e incómodas à sociedade. Onde muitas pessoas nem terapia têm o direito de receber.
Nestes lugares, há mais versões multi-sentimentais. De tão tristes, absurdas e diferentes, são cómicas. Já imaginaram um esquizofrénico passar o dia a dizer que é engenheiro, dizer que constrói o que quer, onde quer e até em Marte. Alguma vez imaginaram que tem um quarto maior, só para ele, e com mais espaço para as suas invenções, quando nós vemos apenas espaço vazio? As gibóias deste senhor são tão especiais como as do Principezinho e este senhor não tem a oportunidade de avariar.
E Deus? Sabiam que Deus mora num lugar destes? No sentido figurado, é certo. Mas personificado também. Deus faz um círculo em torno da cabeça e diz que é uma coroa de espinhos. Deus diz: até amanhã se eu quiser!
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