«A morte continua a ser o centro das atenções», dizia hoje o padre num funeral.
O drama da morte é termos como medida de salvação os planos a longo prazo. Ver a morte em alguém cheio de vida, cheio de tempo para viver tudo o que faltava põe essa medida de salvação entre a espada e a parede. A morte, aí, é o centro das atenções. As recordações tornam-se semi-reais, as certezas tremem. A pergunta é sempre «e se fôssemos nós?».
Os planos perdem um bocadinho de força, aí. E a medida de salvação deixa de caber em lugar algum.
Hoje o funeral foi duro. Foi horrível. Encarar uma trajédia é duro. Mas pais verem morrer um filho é anti-natura. A quantidade de pessoas. A quantidade de jovens. Uma igreja cheia a uma quinta feira.
Eu não gosto de funerais. Ninguém gosta. Mas há uma qualquer obrigação que me faz ir. É uma necessidade de respeito. De honra, de dignidade. É uma vontade de rezar para que o tempo volte atrás e se mudem os erros. Para que, pelo menos, o espírito nunca morra.
O espírito deste rapaz não há-de morrer. Na família e naquele café onde estava sempre, ninguém o há-de deixar partir. Tenho a certeza. Porque embora lá co-exista um mundo diferente do meu, é um mundo muito fiel. Onde os amigos vão bater o pé para que os devaneios e o sorriso dele não saiam nunca.
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