Posturas iguais em coisas diferentes

Eu gostei muito da minha praxe na faculdade. Como caloira foi divertida e um bocadinho dura. Fez-me fazer amigos. Mesmo que eu não os tivesse querido, não teria tido outra hipótese se não tê-los. Fez-me ter a certeza que não haveria melhores para estarem perto naquele ano. Continuam a ser as melhores pessoas do mundo e já não estou perto deles. Essa foi a melhor coisa que a praxe me trouxe. Um vínculo a pessoas com que eu nunca teria conhecido no meio desta minha vidinha atarefada. 

Digam o que disserem, a praxe é brutal. Tão mais brutal quanto mais soubermos o que queremos dela. A dureza que lhe vem intrínseca faz parte dessa brutalidade. Se assim não fosse não nos faria questionar, não nos mostraria como é lidar com hierarquias, não nos permitiria trazer nada de diferente de lá. A praxe não é uma festa. A praxe não é diversão nem conforto. É o que só quem passou por ela sabe sentir. E é-o tão mais forte quanto mais queremos dela.

Eu nunca quis grande coisa dela. Não levava expectativas, nunca quis ter algum poder lá. Eu só gostava de estar. Gostava de experimentar e experienciar coisas diferentes com as melhores pessoas com quem poderia experienciar. A praxe nunca foi a minha prioridade perante nada. Com o tempo, com as laranjas que a vida me ia trazendo, a praxe ficou cada vez mais atrás de todas as laranjas na fila para o sumo. Tanto que, numa determinada altura, deixou de fazer sentido. 

Ontem, percebi que sou mesmo boa nisto de me manter no meu lugar. Trouxe isso da praxe. Não ter poder nenhum e não poder, por isso, fazer justiça, mas saber aceitar e deixar para lá o que não me faz bem. Tenho exatamente a mesma atitude com o meu orientador que tinha com a praxe. É certo que não estou a fazer uma tese para ter experiências novas, estou a fazê-la para aprender. Mas também não tenho mais expectativa nenhuma quanto à tese. Não quero fazer um doutoramento, como nunca quis ter poder em praxe ou em qualquer grupo ao qual pertenci. Só quero trabalhar para aprender. Só isso. O meu orientador, tal como os meus doutores e veteranos com mais matriculas, não compreende que eu posso ter uma perspetiva tão diferente da dele das coisas. Não compreende que eu não sou ambiciosa e que aprender com todas as laranjas da vida é o meu único objetivo, por enquanto. 

A comparação entre a minha tese e a praxe não fica por aqui. Da mesma forma numa e noutra, eu nunca me importei de ser contrariada. Nunca me importei de ser repreendida para poder melhorar e aprender. Porque sei que não sei muito sobre nada e só sendo corrigida posso aprender. Depois faço com as reprezálias o que entender. Ora as absorvo e esforço-me por melhorar, ora me entram a 100 e saem a 200. É aqui a grande diferença entre esta comparação. Em praxe saía tudo a 200, aqui o que sai, sai mais devagar. 
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