DaVinci e as exposições orais

O mundo divide-se entre as pessoas que são capazes de fazer boas exposições orais e as outras. Para infelicidade deste mundo, as outras são a maioria. As outras são muitas das que nos dão aulas na faculdade; das que têm muito boa vontade, muitas boas ideias, muita inteligência mas que falam demais; das que fazem apresentações porque tem de ser, mas que se esquecem que caso o tema não seja de um interesse profundo da audiência e se a apresentação não for extremamente bem preparada, vai ser um fail completo e um tempo de tremendo desespero para quem tem de ficar sentado e calado a ouvir.

No entanto, ainda existem daquelas pessoas capazes de serem tão grandes como uma mosca e ainda assim terem a capacidade de captar a atenção de uma manada de elefantes. As pessoas que preparam, que se preocupam em não falar durante horas só porque para elas é giro, que gostam de impressionar uma audiência, que não se esquecem que os outros poderão não estar tão interessados ou que não têm background para acompanhar todo o raciocínio, merecem uma vénia.
Eu bem sei o quão difícil é ser-se sempre bom, ser-se sempre original, captar durante mais do que 10 minutos a atenção de alguém. Mas não é impossível e isso eu também sei.

Para que eu consiga ficar sossegada e concentrada a ouvir alguém falar, há a necessidade de existência de bons oradores. Ontem surpreendi-me com a atenção que eu fui capaz de prestar durante uma hora seguida. O melhor de tudo é que o tema era relacionado com arte, tema que me custa, muitas vezes, ouvir durante muito tempo. E ainda assim, foi possível!

Antes demais a apresentação era de um italiano que falava inglês. Admirem-se: o senhor foi capaz de falar sem cantar, com um sotaque bem decente. Depois, ele não fazia aquelas variações de volume de voz (bastante irritantes, mas eficientes) e ninguém falou, ninguém deu um pio que fosse na apresentação. (Ok que a audiência era médicos e engenheiros, todos graduados, mas ainda assim um feito). Mais: eu só sabia que lá tinha de estar, não fazia a mais pequena ideia do que se tratava. Quando percebi que o homem estava a preparar-se para falar sobre uma coisa parecida com uma biografia de Leonardo da Vinci fiquei confusa, olhei em redor e garanti que estava na sala correta. Sim, estava... e lá continuei a ouvi-lo.

Uns minutos depois dei por mim de sorriso na cara. Epá, com toda a serenidade e calma do orador ninguém diria que a apresentação estivesse a ser interessante, mas depois olhava-se para mim e via-se um sorriso. O senhor estava a contar histórias da vida de alguém que viveu há 500 anos atrás como se o conhecesse, como se ele próprio tivesse vivido com ele naquela altura. E eu gosto muito desse registo. Aliás, já o tinha compreendido quando ouvi uma das minhas exposições preferidos, sobre Jesus, o homem, como alguém igual a mim. Depois disso já reproduzi esse registo e também funcionou muito bem. Adiante, o senhor contou coisas que eu já sabia e outras que me deixaram encantada. Os génios são sempre loucos, não são?

Ficam algumas curiosidades:

- Pensa-se que Leonardo da Vinci era disléxico, escrevia alinhado à esquerda e em espelho.


- Ele não gostava de pessoas ignorantes; o que quereria dizer era que não gostava de todos aqueles que não pensavam pela própria cabeça. Ele próprio não tinha uma educação formal e achava parvos todos os que valorizavam as letras e menosprezavam o desenho: se o desenho mostra o que os outros tentam descrever por palavras.

-  O fascínio dele era dissecar corpos, perceber a sua anatomia (e fisiologia também) e desenhá-los. No entanto, isso era proibido e não pagava as contas a ninguém. Assim, saltitou entre cidades durante a sua vida e desenhou armas de guerra para ganhar dinheiro.

- Esses tais desenhos do corpo humano tinham muito poucos lapsos, comparando com o conhecimento atual. No entanto, ele não terminou a organização do seu livro 'A figura Humana' e só 200 anos depois se chegou ao nível de conhecimento que ele desenvolvera. 


- DaVinci tem umas quantas citações interessantes e a minha preferida é 'A paciência protege do azar, como a roupa do frio'.


(Eu sei que o post é grande demais para ser lido. Na realidade eu não me importo porque os leitores são poucos e eu gosto é de poder escrever sobre coisas que me apeteçam.)


Próximo post:
« Próximo post
Post anterior:
Post anterior »
2 Comentários fofinhos
avatar

Não é demasiado grande. Acho que gostava muito de ter lá estado a ouvir.

Responder
avatar

Tenho a certeza que ias! (O único defeito foram mesmo os bancos dos anfiteatros na FMUP, são super desconfortáveis!) :D

Responder