E depois?

Um dia chega o dia de pensarmos no depois. O meu depois é o depois da faculdade, depois de 18 anos de escola quando eu estou fartinha de não-me auto-sustentar, quando eu estou fartinha da faculdade para onde toda a gente vai porque já faz parte do percurso, porque fica bem, onde temos aulas obrigatórias com professores sem aptidão para ensinar (e muitas vezes a ensinar tecnologia de há 20 anos) e médias que dizem muito pouco sobre as skills de cada um. Eu, que estudo numa das melhores faculdades do país e reconheço que esta anti-pedagogia nos ajuda noutras skills (no desenrascanço, por exemplo), comparo este ensino - que gasta milhões ao estado - com o ensino privado, o profissional e universitário, ambos experimentados por mim; e vejo o quão isto está tudo errado. O ensino privado, em termos gerais, atualiza-se mais, avalia mais os seus empregados e presta um melhor serviço - isto particularmente no ensino profissional privado.

Claro que depois isto me enraivece e me mostra o quão errado é o sistema. Entrar na escola em pequenino, haver apoios e obrigações que nos levam de forma mais ou menos natural à universidade. São poucos os que trabalham no entretanto. São cada vez mais os que depois da licenciatura e do mestrado ainda se atiram de cabeça ao doutoramento... num breve surto de parvoíce esperança de ter uma carreira académica ou de nos entretanto as empresas tratarem de empregar doutorados. O sistema está errado porque o dinheiro circula muito no sentido público e o serviço público é desmedido, mal avaliado e pouco pensado a longo prazo.

No dia em que pensamos no depois, pensamos no quanto isto funciona mal. No quanto era importante ter tido experiências profissionais mais formais, no quanto isso devia ter um cariz mais obrigatório e no quanto tempo perdemos na faculdade porque simplesmente o trabalho de quem constituí as universidades não é bem feito. Eu, hoje, penso no quanto aprendo mais e melhor nas minhas aulas profissionais que me saem bem (muuuito bem)  mais caras do que esta porcaria de ensino público-obrigatório-o-qual-tem-prioridade. 

Arranjo o Linkedin. Revejo o que há de público no meu perfil do facebook. Dou ênfase no curriculo ao pouquinho valioso que faço fora da faculdade, numa tentativa de me distinguir dos outros mil que têm melhores médias que eu, mas que muitas vezes não têm ponta de responsabilidade, ponta de experiência em trabalhar com pessoas. A seguir vou escrever cartas de motivação em português e em inglês. No entretanto arranho o alemão. Faço contas do quanto poderá compensar trabalhar aqui ou fugir por uns anos para aprender a trabalhar à-homem, onde o serviço público também é exigente.

E não, neste país não está tudo mal. Eu gosto muito dele e se fugir quero querer voltar. Mas que a ponte entre o mercado do estudo e o mercado profissional ainda é muito frágil, sim é. 
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