Serra do Gerês - parte 2

Podemos fazer férias na montanha para descansar, ver os montes cheios de árvores e os rios que lá passam, cheirar a natureza e não fazer mais nada. Ou podemos ir para as montanhas e descansar a um nível muito mais do que físico, a um nível muito profundo, onde o cansaço físico e a exaustão são algo bom e que renova a alma. Onde a água fria de um rio restabelece toda a energia necessária e deixa-nos distantes do que são todos os dias.

Parque de Campismo de Cerdeira

Depois de algumas horas de carro entre serras e montes, subidas e descidas em ruas estreitas, por muito que a viagem tenha sido realmente bonita, a paciência já não era total. Nem a nossa, nem a dos senhores do campismo que nos receberam sem amabilidade nenhuma. Primeiro quase insultaram pela reserva ter sido feita no nome de uma pessoa e ter sido uma diferente a ir à receção. Podia ter tido toda a razão do mundo mas para isso teria de dizê-lo de forma simpática. Resolvida a situação, ficamos ligeiramente chocados pela piscina ser paga - o que faz algum sentido, mas não é agradável num parque tão caro - e a cereja no topo do bolo foi quando pedimos eletricidade e reclamaram connosco pelo lugar que nos atribuíram ser muito longe de um ponto de distribuição.

A primeira impressão do parque foi péssima, como se vê, mas a segunda e a terceira foram muito boas. A mancha cinzenta ficou, mas a estadia valeu muito a pena. Os balneários eram limpos, espaçosos e existiam em diferentes zonas do parque, os socalcos para as tendas estão bem definidos, são lisinhos e não há sequer trabalho em garantir que não montamos a tenda em raízes ou pedras. Há muitas atividades organizadas pelo parque, desde caminhadas a festas. A piscina é limpa, a relva está em muito bom estado e é paga para se manterem estas condições e porque não tem capacidade para os dias em que o parque está completo.


No dia em que chegamos houve uma festa de caipirinhas na piscina. As caipirinhas eram muito boas, feitas na hora, música era brasileira, a da moda - com tudo o que de bom e mau tem - e o ambiente proporcionado era extremamente agradável.


 
Rio Caldo

O Gerês está na moda e embora as massas não procurem caminhadas longas pela serra e um contacto extremo com a natureza, toda a gente procura praia e conforto - o que me parece irónico na maioria dos casos. Em Rio Caldo, uma localidade que vive do turismo do rio, há uma grande área turística. Dá para alugar barcos e barquinhos, há praia, hotéis e restaurantes.

Descobrimos a localidade porque queríamos uma bomba de gasolina, ficamos cheios de vontade de ir ali embora não estivesse nos planos, o que acabou por se proporcionar. No final do dia, quando a enchente já tinha desertado, com o sol a pôr-se nas montanhas, ao voltar para o parque de campismo, paramos, mergulhamos ou molhamos os pés e desfrutamos da vista maravilhosa.



Caminhadas e cascatas

Fizemos o PR14 do Gerês, um percurso que se prevê ser feito em 5 horas. Mas, como o percurso tinha perto alguns pontos de interesse que valiam muito a pena, passou a ser um percurso com mais 7 km e um total de 8h30.



Começamos na aldeia da Ermida, pusemo-nos a caminho e para mal da minha péssima condição física, começamos com uma bela de uma subida. Foi ver-me a abafar, a arfar, a sentir a rarefação do ar, o calor e as minhas pernas pesadas. Chegou a uma altura em que tive mesmo de parar, elevar as pernas e deixar que o oxigénio circula-se e me restabelece-se. Depois disso, o percurso melhorou e senti o meu corpo mais apto. Chegamos num instante à primeira paragem programada: as cascatas do Arado. Valia a pena, mas como o spot também tem acesso por carro, havia imeeensa gente. Bastou-nos molhar os pés para seguirmos caminho cheios de vigor.

Voltando ao percurso do PR14, uma hora depois encontramos o desvio para a paragem seguinte: o Poço Azul. Lá estava a casa com piscina que viramos no google.maps, o caminho de cabras, sem marcas que nos garantiam estarmos no percursos certo, começava ali. Uns bons metros à frente enganamo-nos no desvio. A nossa sorte foi um outro grupo que vinha atrás de nós e já conhecia o percurso. Desconfio que se não fossem eles a gritarem-nos de longe, ainda hoje estaríamos perdidos na serra. Caminho de cabras adiante, uns 2 km, em que procurávamos mariolas e tentávamos seguir paralelamente ao rio. Eu estava tão cansada, tinha voltado a arfar, e tinha tanta, mas tanta fome que foram os 2 km mais longos de que tenho memória. A expectativa crescia sempre que víamos um bocadinho de água, mas nada de poço! Foi quando encontramos outro fato e o seu pastor que finalmente chegamos. Eu sentei-me, parei e pouco depois mergulhei. O meu corpo estava tão exausto que me expulsou de imediato da água. Naquele momento parecia tão fria, tão fria que não era capaz de me manter dentro de água. Felizmente, depois de comer e de descansar fui capaz de entrar e de desfrutar daquele pequeno e incrível paraíso natural.



Voltando ao PR14, chegou a parte pior. Descidas que me destruíram um joelho - um mês depois ainda não recuperei -, um sol abrasador, ninguém no percurso e mosquitos que se colavam a nós só para reforçar o horror que passávamos. Adiamos a ideia das cascatas do Tahiti porque seriam mais 6 km. E, finalmente, quando já não tinha mais estratégias de auto-motivação, a subida teve fim e regressamos à aldeia da Ermida.


Foi um dia e pêras, este quarto dia. Chegamos ainda com luz para fazer o jantar. Mas o cansaço foi tanto que decidimos adiar a lavagem da loiça para o dia seguinte. 

Por esta altura sentia o efeito das férias... já não me lembrava da existência de uma tese. Sentia-me bem e até começava a não ter medo de subidas íngremes de carro (fobia desenvolvida nas férias do ano anterior).
Ah, férias, férias!


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