A Maria - nome fictício - faz parte de um grupo de formandos que vai iniciar um curso para uma profissão que não depende muito da capacidade física. Ela é realmente feliz e gosta de atenção. Tem uma paralisia que a faz ver a vida sentada, cheia de movimentos involuntários nos braços. Abre-os quando fala, enquanto sorri muito. A Maria precisava de uma cadeira elétrica, mas é feliz sem ela. A Maria é uma força da natureza, a única mulher da turma. Emocionou-nos a todos. Emocionou o José, esquizofrénico, que sentiu na pele aquela felicidade e mexeu no seu íntimo, ao ponto de observar que as pessoas sem limitações físicas raramente se sentem tão felizes e agradecidas.
Há tantas Marias e tantos Josés por aí. Há tantas pessoas diferentes, com tantos problemas diferentes dos meus. E dos vossos, talvez. As Marias e os Josés têm problemas que não se resolvem sozinhos, que não se resolvem com persistência e força de vontade. Eles têm problemas com os quais têm de aprender a viver e, às vezes, aprender a aceitar que vão sempre piorar, nunca melhorar.
As Marias e os Josés que tenho conhecido fazem-me querer muito ser rica, um dia, e trabalhar para e com eles com paciência, sem pedir nada em troca. Eles têm-me feito ver o quanto sentido há em querer fazer tantas coisas, em valorizar tantas coisas.
Eu espero ter a sorte de não vir a ser uma Maria. Ou se um dia for ou tiver de cuidar de uma, que seja tão feliz quanto esta Maria.
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