A chegada e uma questão de perspetiva

Como dizia Fernando Pessoa, quando escrevemos o que sentimos, não escrevemos o que é a realidade de um momento, a realidade do pensar. Às vezes é bom escrever quando sentimos no exato momento de um acontecimento. É estonteante a beleza que um sentimento imprime num texto. Mas nem sempre retrata o momento como ele o é. 

Lembro-me do dia em que cheguei à residência onde morei em Erasmus (e peço desculpa por estar sempre a referir esta altura, mas é a melhor comparação que tenho). A realidade conta-me que o que vi foi um quarto comum, não muito novo nem muito bem tratado, mas nada que fugisse muito ao que esperava. Por outro lado, a sensação que tenho é muito diferente. A memória das sensações diz-me que entrei num lugar muito escuro, a cair de velho, com um cheiro que eu não gostava. Lembro-me da minha colega de quarto como um elfo de cabelo laranja aos caracóis. A sensação quanto ao espaço foi muito condicionada pelo restante dia, passado em viagens, cansativo, sozinho, num lugar onde eu não compreendia rigorosamente nada do que diziam e onde nem as poucas palavras que eu exprimia eram bem compreendidas. Relativamente à minha colega, a culpa era do cabelo, que a fazia ser exatamente igual à Brave, que não é um elfo mas ter ar disso.

A chegada a Innsbruck, embora muito mais cansativa, foi totalmente diferente. Hoje, quando já passaram praticamente duas semanas, posso dizer-vos como foi e como a estou a sentir. Racionalmente, foi uma descoberta. Muitas coisas novas, muitos planos para organizar e pôr em prática. A minha primeira entrada em casa foi confirmar se era exatamente como via nas fotografias e como esperava. Era exatamente assim. Acho que depois disso sorri. Sorri porque a sensação que tive foi exatamente de casa, como se já conhecesse aquele lugar há anos. Como se eu já fizesse parte dele, tanto quanto do meu quarto em Portugal. Da mesma forma que estamos cá só há duas semanas e esta última durou um mês, para mim.

Conclusão, não acreditem em tudo o que escrevo aqui. É verdade, mas será sempre uma verdade à luz das minhas emoções. Amplificada ou diminuída por elas. No fundo, o que é a realidade se não isto?
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