A felicidade é uma questão de equílibrio

Allambra, Granada, 2011. Nas viagens a balança está sempre equilibrada.
Foi há quatro meses que decidi que viria morar para Innsbruck, seguindo um instinto que tinha muito mais de emotivo do que de racional. Nessa altura, estava a fazer um estágio num local que prezo muito, num local em que se trabalha com e pelas pessoas, num local onde acredito um dia voltar. Estava com os meus dias preenchidos das 8h às 20h, pelo menos. Era uma altura em que corria entre estágio, futebol, explicações, formação e preparação para o crisma, incluindo outros bocadinhos sempre que era possível. Eram dias loucos que me faziam sentir viva, feliz, realizada e exausta. Também me culpabilizava porque o tempo para mim fazia-me falta, faltava-me o desporto e a meia-hora que passo deitada, a lavar os dentes, antes de dormir; esse é o momento em que medito, em que os pensamentos fluem e ficam arrumadinhos.

Quatro meses depois de decidir sair do meu quase-equilíbrio, depois de decidir mexer totalmente nos pesos que mantinham a minha balança, ainda não a tenho equilibrada, mas também não encontro em mim um mínimo arrependimento. Decidi vir por amor, porque na vida surgem oportunidades únicas que são rampas de lançamento, que um "não" pode causar ressentimento para a vida. Vim porque precisava de sair da minha zona de conforto, porque talvez nunca chegasse a tentar voar mais alto, ficando conformada e realizada de forma pequenina. Vim e aprendi a viver com tempo livre. Depois do primeiro mês de choque, ficou mais fácil. Os meninos da explicação ficaram entregues nas mãos certas e isso é metade do meu contentamento. Ainda vou dando ajudas via skype para matar o bichinho. Gosto de ter tempo para mim, para lavar os dentes tantas vezes e exatamente como o meu dentista me implora, para me lembrar de besuntar com creme e cozinhar mais do que leite com cereais. Gosto que a transição entre a casa dos pais e a nossa casa tenha sido fácil porque o tempo me permite manter tudo em ordem.

Quatro meses depois, esta já é a minha casa. Já é este o lugar a que quero chegar todos os dias, onde estão quase todas as máquinas fotográficas, os álbuns e onde não há tapetes e poucas cortinas. Ainda tenho dúvidas quanto a sentir esta a minha cidade. Embora saiba quase todos os lugares onde ir para comprar e ver o que me apetecer, ainda não existe o encantamento que tenho por Espinho ou pelo Porto. Não consegui voltar ao exercício de forma tão regular, não por falta de tempo, mas por conforto. Falta mesmo só o trabalho que implicará uma nova adaptação, mas que me fará mais realizada outra vez. O meu único medo é que a resposta que está quase a chegar seja negativa e que eu tenha de me reinventar, tenha de escarafunchar em mim, agarrar-me ao gosto e à necessidade e desenvolver mais o meu alemão, à pressão, por muito pouco jeito tenha para aprender línguas.

Quatro semanas depois da entrevista, atualizo o email de forma compulsiva. Procuro uma resposta positiva e temo a queda na negativa. Tenho alguns planos b, c e d. Mas, no fundo, não os quero. Quatro meses depois da decisão espero por uma resposta quando a média para encontrar trabalho no centro da Europa é um ano. Devia dar-me por sortuda. O problema é que não é que não é a sorte que equilibra balanças.
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