As saudades dois meses depois

Os primeiros dias são sempre os piores. As saudades continuam a não ser nada mais do que o amor e, no final das contas, o verdadeiro resistirá sempre à distância.

Escrevi um post sobre saudades, nos primeiros dias, que me saiu do coração. Lembro-me da delicadeza que precisei para conseguir gerir tudo o que escrevia, para que conseguisse transmitir o que sentia. Reli-o hoje e percebo que consegui. É um texto muito bonito e marcante. Não seria capaz de o escrever da mesma forma outra vez.

Dois meses depois, as saudades já não são centrais nos nossos dias. Já quase não falamos sobre elas. Não sei se pelo espírito de missão, de objetivos a cumprir, ou se é simplesmente porque crescemos um bocadinho quando tivemos de aprender a geri-las. No meu caso, tenho a certeza que foi uma aprendizagem. Aprendi a aproveitar o tempo livre e a divertir-me com ele. Exceto quando me sucumbo à preguiça, coisa que me deixa com o pior humor, tem corrido muito bem. 

A ida a Portugal mostrou-me que está tudo exatamente como vejo no Skype e que me sinto como se morasse em Lisboa. Eu explico. A noção de espaço é condicionada pela noção de tempo. Em meio-dia cheguei da casa de cá à casa de Portugal. Só não demorou menos porque atravessar os Alpes dificulta o processo. É pouco mais do que morar em Lisboa e ir a casa. Esta Europa é um cantinho muito pequeno e a distância será cada vez mais subjetiva. 

Gostava que todos os que estão desse lado conseguissem ver isto deste prisma, gostava que vissem esta perspetiva. Estou convencida que as gerações futuras terão muito menor dificuldade em mudar-se. Desfrutarão a vida de uma forma diferente porque a distância e as saudades serão muito mais relativas. Todos os dias surgem rotas aéreas novas para todo o lado a custos baixos, todos os dias aprendemos línguas e as telecomunicações avançam. Os corações vão continuar a existir, eu sei, mas vão conhecer um mundo que os meus pais e até eu não conheço.

Dois meses depois já conhecemos uma cidade nova, visitamos uma amiga portuguesa que mora em Munique e tivemos uma visita de um português. Nota-se que as nossas raízes ainda são exclusivamente portuguesas, mas também sentimos, e de forma muito intensa, que elas são móveis. As raízes que nos ligam às pessoas entram dentro de aviões e vêm até cá. As saudades, as raízes e o amor são fortes o suficiente para não deixarem de existir, mas flexíveis o suficiente para se soltarem da terra e adaptar-se aos tempos modernos.

Dois meses depois eu estou muito feliz com a conquista e com o crescimento alcançado. Com este crescimento tem surgido uma vontade muito grande de mostrar ao mundo o quanto a emigração é um bicho de sete cabeças apenas por imposição da nossa mente. A emigração pode ser um martírio ao princípio, por necessidade, mas se lutarmos por ver o lado bom, por nos envolvermos, eu acredito que qualquer um consegue ver nessa fase da vida, um belo caminho percorrido.


P.S. - Falta só inventarem telecomunicações decentes para comunicar com animais. A minha cadela fica parva e confusão quando me ouve nos skype, dificultando a nossa comunicação.
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