A última sexta feira

Vou contar-vos uma história. Era uma vez um casal que comprou uma viagem de avião para a Holanda, onde se encontraria com uma amiga. Esse mesmo casal, antes da tal viagem, vivia harmoniosamente numa cidade austríaca onde é fácil, muito fácil andar de elétrico sem pagar e era dessa forma - com todas as estratégias desenvolvidas com a experiência adquirida noutros países - que ela utilizava o elétrico quando necessário. Tudo muito bem, muito perfeitinho e funcional até à última sexta feira.

Era sexta feira 13, para os supersticiosos.

E depois de uma azafamada manhã, das malas feitas em 30 minutos e da casa estar mais ou menos em ordem, entraram no elétrico na hora pretendida e o relaxamento apoderou-se da situação. Nem o bilhete do elétrico ia na carteira, nem planos b ou c para o caso dos revisores entrarem. E entraram, na estação de sempre, sem sequer haver uma surpresa. Sucedeu-se uma multa (nada de mais), um autocarro perdido e uma mistura entre o sentimento de culpa e a relativização. No final das contas, as viagens à borla haviam de ser pagas nalgum dia. 

Chegados ao aeroporto, de malas com pouco mais que uma muda de roupa, passaram o controlo e porque, obviamente, se tratava da primeira viagem do casal, levavam na mala coisas que não poderiam entrar no avião. Despejar a mala e voltar a passá-la por raio-x. No embarque este mesmo casal, na Áustria e a caminho da Holanda, ouve um "boa viagem", em bom português, do controlador de embarque. Como se não bastasse de português, estranho, estranho foi quando, ao se sentarem num avião velho, que não combinava com o que a Transavia os habituara, leem "Manter o cinto afivelado enquanto sentado". 

Foi neste momento que a viagem começou a sério entre as sensações que o português provocava e o holandês que já se ouvia no avião. 

Ah e se a nossa língua está cheia do som xxxxx (peixeira, conchas...), esperem para ouvir holandês! Aquilo é a real mistura entre o alemão e o inglês em versão complicada. Imaginem como se dirá "dia" em holandês! É só juntarem "day" (inglês) com "tag" (alemão) e voilá: em holandês é "dag"! E além da língua, outra coisa que lhes saltou de imediato à vista, foram os cabelos dos holandeses (homens). São tal e qual o cabelo do Justin Bieber em início de carreira, com uma lambidela de um S. Bernardo. Não é que fique feio, é só a cena da lambidela não estar bem nos padrões a que estou habituada. 

Para concluir em grande a fase da viagem, devo ainda dizer que na sexta este tal casal estava desprovido de cérebro.

Os bilhetes de comboio entre Eindhoven e Amesterdão foram comprados numa manha que se organiza pela internet, em que se pagam bilhetes de grupo com um grupo que não se conhece de lado nenhum. Esses bilhetes custam menos de um terço do bilhete original e apenas é necessário indicar online qual a estação de partida. O tal do casal conseguiu falhar nisso e indicou uma estação à frente. Alguém com dois neurónios compraria uma viagem entre essas duas estações e ficava tudo muito bem resolvido. Mas não, decidiram ir a pé - quais turistas! - até à estação seguinte, onde perceberam que o comboio não parava. Voltaram, então, para trás para, finalmente, se porem a caminho do destino.

No comboio dirigiram-se a uma carruagem de segunda classe. Estava cheia. Seguiram pelo comboio em busca de lugar e quando se sentaram, uma senhora quase em surdina diz qualquer coisa como "xorry xilenxe": era uma zona de primeira classe onde não se podia falar - ideia absolutamente espetacular, por acaso. Os comboios intercidades holandeses têm algumas carruagens em que se encontra primeira classe, primeira classe silenciosa e segunda classe, coisas úteis mas uma valente confusão por se tratar da mesma carruagem. 

Resumindo, depois de todo um dia de peripécias, algumas impressões sobre holandeses, a viagem de avião que fez sentir a Holanda ali ao lado - de tão curta que é a viagem de avião, e vários momentos em que o cansaço e o relaxamento se apoderaram deste casal, chegaram a Amesterdão. Sabe-se lá quem será o casal...!



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