Gosto de viver sem carro

Há mil e um motivos para toda a gente querer ter o seu carro, desde o tempo que se poupa ao quão prático é poder levar no carro toda a tralha e mais alguma. Eu concordo com isso tudo, mas, no meu ponto de vista, os motivos para não usar carro são muito mais fortes.

Obviamente que isto não é possível em todos os lugares. Que eu tenha conhecimento, só em Lisboa e no Porto é possível ter acesso a tudo utilizando transportes públicos. As bicicletas não são exatamente uma solução nos restantes locais porque não temos nem vias para tal, nem estamos culturalmente habituados a que as bicicletas co-habitem as faixas onde circulam carros. Não falando no estilo de vida que, por exemplo, eu levava, onde tinha a agenda programada ao minuto e num lugar onde os horários dos transportes regionais não lembravam nem ao menino Jesus.

No entanto, sempre sonhei em morar num lugar onde pudesse usar exclusivamente transportes públicos, assim como me esforcei por usá-los na faculdade, uma vez que no Porto não há alternativa melhor. Os motivos que me faziam gostar de os usar, e me fazem adorar morar em Innsbruck, incluem saúde, aproveitamento de tempo e ambiente.

De manhã, não há nada mais chato do que chegar à faculdade ou ao trabalho depois de levar com trânsito, com mil pessoas com fúria de chegar, sempre atrasadas, sempre sem tempo. Esse tempo de fúria num comboio pode ser aproveitado de forma calma para ler, compensar o sono em falta ou pôr a conversa em dia com alguém que se encontrou. O meu único medo quando vim para cá eram as compras. Há lá coisa pior do que atravessar a cidade com sacos carregados, ou fazer compras às pinguinhas? No entanto, a bicicleta funciona muito bem cá. A minha tem um cesto e colmata muito bem os lugares onde os transportes não chegam ou implicam muitos transbordos. Tenho o elétrico a um minuto de casa que passa com muita frequência, autocarros para todo o lado e uma cidade plana que me permite andar de bicicleta para onde me apetecer.

Não digo que para ir a um lugar diferente não implique uma maior logística, mas ainda assim compensa. Caminho mais, fotografo mais e nunca me irrito com o trânsito. Uso menos malas e mais mochilas, que as costas agradecem. Até penso pormenorizadamente no que faz sentido comprar, já que isso me custa um peso extra para transportar. Ou seja, ganho saúde, anos de vida e poupo dinheiro, em compras e nos gastos que um carro implica.

Ainda há imensa gente que me olha de forma desconfiada quando exprimo a sensação boa de não viver presa e viciada por um carro. Acham-me um pouco extraterrestre, mesmo cá onde os transportes são tão bons. Eu deixo para lá porque afinal eu sobreviveria sem carros e sem telemóveis, coisa que o mundo moderno e tecnológico não conhece, perdendo o lado bom, simples e bonito da vida.  Quem é o extraterrestre afinal?
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