Um aluno com média de 20 não é o melhor exemplo

Olhando para a pauta com todas as notas que este aluno teve no ensino secundário, que se pode consultar na página de Facebook da instituição, há apenas uma nota a destoar: um 17 a educação física. Mas esta nota não conta para a média final de secundário.

Há várias coisas a dizer sobre esta notícia (que tem quase um ano) e sobre esta citação em particular. 

1. Fixe que o Gonçalo seja um bom aluno
Eu acho que são muito poucas as pessoas que aos 14/15 anos sabem o que querem da vida. Mais são aquelas que nessa idade têm a cabeça focada em estudar quase a 100%. No entanto, ambos os casos não são a maioria das pessoas, infelizmente. Eu acho legítimo que assim seja porque eu própria não pertencia a nenhum dos grupos: não fazia a mínima ideia do que queria fazer e tinha coisas muito mais divertidas na minha cabeça do que só estudar. Se a minha postura era errada, eu não acho. Tenho uma necessidade grande de ter coisas muito diferentes na minha cabeça e ao mesmo tempo, é certo e sabido. Agora imaginem-me adolescente... não dava. Não era por isso que tinha más notas na escola, mas não eram de excelência porque pronto, não estava nesse foco.
O Gonçalo, felizmente, encaixava-se nos dois grupos que descrevi: conseguia ser muito focado e já sabia que queria ser médico. Então, estudou para isso, trabalhou durante três anos e conseguiu. Mas, repito, isto não representa a maioria dos comuns mortais e, por isso, não deve ser tomado como regra. Não é pelos Gonçalos que a escola e o ministério da educação têm que trabalhar, é por todos os outros. Assim os Gonçalos conseguem destacar-se igualmente, mas os restantes, com diferentes características e personalidades, também podem evoluir, superar-se e encontrar-se.

2. Péssimo que se valorizem tanto as notas
Para mim, esta notícia peca pelo ênfase que dá ao tema. É uma opinião pessoal, mas nem o ponto de vista de achar isto inatingível, nem o ponto de vista de ver neste aluno um exemplo de vida são corretos. As pessoas não são todas iguais e por isso, este caso, tão extremista, tomado como exemplo, leva a uma competitividade pouco saudável. E não é inatingível porque há objetivos específicos para atingir estas notas, alguém que trabalha consegue, ou pelo menos fica lá perto - para mim uma média de 19 ou de 20 é exatamente igual. 
Esta notícia foca-se nas notas e no gosto por estudar. Tenho um amigo médico que explica que entrar em medicina não é saber mais do que os outros, é ter capacidade de memorizar e compreender na perfeição como ter a cotação máxima nos exames. Atualmente esquecemo-nos do valor da aprendizagem. Estudar e aprender são coisas um bocadinho diferentes. Eu sou péssima a estudar e gosto muito de aprender. E, dando um exemplo, lembro-me de, na faculdade, ter um teste de matemática que, por um motivo que não me recordo, não consegui estudar. Não tinha nada escrito no caderno para espreitar a caminho do teste, mas fui. Tive 12, uma das melhores notas. Como? Adoro matemática e o raciocínio lógico exige muito pouca memória. Não escrevi nada no caderno porque a aula era extremamente rápida, mas acompanhei tudo o que foi escrito no quadro e explicado pela professora. Eu não estudei, mas gostei de aprender. O raciocínio ficou e lá me safei. 
Como eu existem milhares de exemplos. Não temos todos o mesmo foco, a mesma maturidade, as mesmas experiências e vivências e somos diferentes em idades diferentes. No meu ponto de vista, a escola tem de ser mais inclusiva neste sentido. Como é que se faz, não sei, mas precisava de uma reviravolta das grandes. 

3. Muito péssimo a nota de educação física não contar para a média
Eu defendo que educação física é mais importante do que a filosofia. Porquê? Eu tive uma péssima professora de filosofia, isso junto com a maturidade da altura fez-me não tirar o menor proveito daquilo que eu, hoje, acho interessante. Educação física envolve um outro tipo de inteligência e a sua exclusão da média só tornou a escola mais virada para um grupo muito restrito de pessoas. Além de que em educação física se adquire cultura desportiva e é uma aprendizagem muito mais prática, que fica gravada de uma forma diferente. Na notícia, mais uma vez, o tom com que se refere à educação física, diminui a mesma. Como se não fizesse mal, como se não demonstra-se um lado fraco daquele aluno que parece ser perfeito em tudo, exceto no que não é importante.
Quando o nosso querido estado pagar tratamentos médicos para toda esta malta que passa a vida sentada, não gasta toda a porcaria que come e tem dores de costas porque não aprenderam que o agachamento é a forma de nos baixarmos corretamente, talvez se recordem que o exercício é tão ou mais importante do que a filosofia.


Um dos truques para compreender os adolescentes é pôr-mo-nos no lugar deles. Para escrever alguns textos também faço esse exercício de percorrer os anos que passaram. Quando escolhi o percurso do secundário era assim. Epá, aquele vestido ainda me serve e que moreno invejável! 

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