Questionar a privacidade - parte 2

Tu, aí, pessoa que está aí sentada a ler isto, o que fazes com a informação que tens? Independentemente da sua natureza, qual é o teu princípio? Qual é a primeira coisa em que pensas? Guardá-la? Partilhá-la? Depende, eu sei. E a partilha é transparente, honesta, humilde e com as consequências medidas a regra e esquadro?

São tudo ideias que me lembro de ter como questão desde... que me lembro. Até que ponto partilho a informação que tenho? Geralmente, separo-a em duas caixas diferentes: aquela que é pública e de todos e aquela que é particular. Uma medida política é informação pública, mas nem tudo o que vem escrito nos jornais o é. Um suicídio, uma vítima de violência doméstica ou um acidente de carro são informações privadas que se escrevem nos jornais porque vendem. Também se escreve porque é preciso alertar o mundo para que estas situações se repitam o mínimo possível. Mas saber o nome, a localização e a idade das vítimas não é um alerta. É uma forma de matar a curiosidade alheia, de a espalhar, sem permissão de quem essa informação pertence. 

E sim, eu também sou curiosa. Se há alguma coisa a acontecer na minha cidade procuro saber quem foi, onde morou e se já me cruzei com o indivíduo. Mas se essa informação não estiver escrita, anunciada e realçada a negrito, eu não a leio e não sou mais ou menos feliz ou realizada por isso. Eu também não quero que escrevam sobre mim nos jornais porque não quero juízos de valor de terceiros que não são meus amigos. Eu conto a quem me apetece contar a vida, da forma como quero que a minha própria informação seja passada ao mundo, dando asas para os juízos de valor que eu permitir. Se sei que essa informação, uma vez partilhada, não fica ali? Sim, mas por princípio confio que ficará entre pessoas que me conhecem e me querem bem. Que aqueles que não querem não comentarão e os que comentarão o farão comigo, de forma aberta e transparente.

Nem sempre acontece assim. Às vezes a informação passa e chega a pessoas que até nos querem bem, mas também não são transparentes. E essa não transparência que, hoje em dia, tem as portas mais abertas com os telemóveis e a internet, faz-me questionar muitas coisas. Faz-me querer fechar na minha bolha, onde não sai nada de minimamente privado. E logo eu, que sei fazê-lo tão bem, tão bem. Eu consigo fechar-me em copas e há dias em que é mesmo a única coisa que me apetece. Esforço-me para que isso não aconteça porque essas copas trancadas mexem com a liberdade dos outros, mas não deixo de ter essa defesa. E não, não me importo nada de saber que um familiar faleceu por uma amiga. Se ela souber antes de mim e quiser contar-me com toda a sua transparência. Mas não compreendo que queiram saber, por saber, sem pêsames, sem nada, com terceiros. Compreendo menos ainda que com uma informação se vá em busca de uma confirmação manipulada. Não compreendo a deturpação, a tentativa de conspiração, o uso por maldade da informação, sem pensar duas vezes, sem pensar no outro lado, nas boas relações. E isto, pessoa desse lado, acontece tantas vezes. E isto, pessoas, acontece comigo e convosco tantas e tantas vezes.

Ainda que defenda que há uma exploração da vida privada, escrevo um blog. Pois é. A diferença é que, ainda que pareça, não passa quase nada do que é privado. Mais ainda, é escrito por mim, da forma como eu quero que a mensagem seja passada. Exatamente como quero, ou não me importo, que toda e qualquer pessoa por esse mundo fora saiba. O blog é, também, um exercício para que a bolha não se feche. E se às vezes não me apetece escrever mais no blog, outras só me apetece que o blog fique ainda mais bonito e aliciante. E, quanto a isso, estou a convergir para isso numa outra plataforma. Mais duas ou três semanas e conto-vos mais sobre isso. 
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