Aquele tempo, um conjunto de dias consecutivos, prolongado por algumas semanas, ao qual não nos dedicamos à nossa principal atividade (como quem diz emprego), chama-se férias. E as férias, ah as férias, mereciam uma ode! Eu é que não sou muito dada a cantorias. Caso contrário, elogiaria este tempo como O tempo, em forma de verso. Como aquele em que é permitido sentar no sofá e deixar o trabalho para mais tarde. Aquele em que os dias podem terminar sempre de madrugada sem culpa e as manhãs madrugadoras sabem a pato. Aqueles em que arrumar não é mais apetecível do que trabalhar, e onde até arrumar pode ser feito com tempo e paciência.
As férias são como que um tempo em que todos os insultos que pregoamos a tudo o que não está bem desaparecem. São o tempo em que todos os males da alma nos desamparam a mioleira. São um tempo livre sem culpas. Uma desculpa para voltarmos a lugares onde fomos felizes e ser felizes em poisos novos.
Ainda assim, não é qualquer um que fica de férias. Não é qualquer um que se abstrai da contagem decrescente de dias para o fim dos dias sem horas. Ficar de férias envolve um esforço intelectual, um esforço que nos pare a rotina. Um esforço para ver as coisas que já fizemos nas férias, ao invés das que estão por fazer. Devia até ser lei parar. Quem não parasse teria o salário penalizado no ano seguinte. Ficar de férias deveria ser regra por bem da sanidade de todos, em prol da redução das depressões e distúrbios mentais. Deveria ser regra sair de casa. Dormir noutros quartos, noutras camas ou numa tenda de campismo. Deveria ser regra ler pelo menos um livro e ir ao cinema pelo menos uma vez. Deveríamos todos provar comidas novas e ter a casa cheia de amigos, pelo menos uma vez nestes dias. Tudo isto para podermos ver os dias que se seguem como que novos, ser mais fácil decidir, avaliar e valorizar.
Eu estou de férias há dias suficientes para sentir a dificuldade de ficar de férias. Também faltam poucos dias para voltar ao trabalho e, por isso, também sinto a importância de ficar de férias. Tinha mil um planos para as férias. Até os escrevi na agenda. E, sabem que mais? Ainda não abri essa página. Porque estou de férias e tenho de me esforçar por deixar as listas para depois. Sei que não está tudo feito e que não vai ficar. Começo a não estar preocupada, de todo. Começo a ficar de férias. E, amanhã, vou dormir noutra cama, provar comida nova, ler mais um livro, ser feliz num lugar novo e viajar de comboio, onde sou sempre mais feliz.
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