A escola e a nostalgia

Os horários das escolas de Espinho saíram hoje na internet e eu constato várias coisas:
1. Eu sempre implorei por isto, de sair tudo na internet. Agiliza o processo. Deixa de haver aquela coisa de ir até à escola na tentativa de satisfazer a curiosidade e bater com o nariz na porta, porque a turma ou o horário só saem 'lá para a semana que vem'.

2. No meio sexto ano (ou seria no quarto?), os exames de matemática de português saíram na internet, no dia anterior a serem feitos. Sei que não se acreditam, é impossível e toda a gente saberia com a antecedência. Mas é verdade e ninguém via isso, até porque quase ninguém tinha internet em casa.
Lembro-me de cá em casa não me deixarem vê-los e lembro-me da minha irmã inventar exercícios parecidos, para me mostrar que estava preparada. Isto foi há 11 anos. Só. A dimensão da internet é incomparável, tal como a capacidade dos miúdos. Hoje seria impensável e há 11 anos não fazia a mínima diferença.

3. A carga horária é tão grande! E as turmas? Enormes. Os professores no desemprego. Os pais no emprego. E crianças sem tempo livre, na escola e sem espaço para a imaginação. Sem folgas. Sem horas a fio nas bancadas. Deitados nos colos dos amigos. Sem puderem jogar cartas no polivalente. Sem bolas para alugar. Foi nessas horas que aprendi tantas coisas giras. Porque ali não havia forma dos pais saberem. Também foi quando andei à luta, com direito a cabelos e tudo. Era nessas horas que aprendíamos a ser amigos. Era nessas horas que se davam os primeiros beijos e onde se faziam juras de amizade eterna. As minhas boas memórias como adolescente vêm daí. E agora é tudo diferente. Todos os miúdos têm bons telemóveis. Grande parte com internet grátis, fará as mensagens (ah, os toques e os yorn tokings <3)! A informação é rápida, muito mais rápida para compensar o tempo que falta. Para compensar as folgas que nos tiraram e que nos permitiam enganar o porteiro e ir para um sítio diferente. Eu cheguei a faltar às aulas de substituição em forma de protesto. Eu e uma parte da turma saltamos as grades da escola, não contamos a ninguém e protegêmo-nos perante a diretora de turma, com unhas e dentes. Escrevi no meu querido Barquinho de Papel, como era parvo tirarem-nos esse direito, quando as aulas nem aulas eram (e cheguei a falar disso na Praça da Alegria, enquanto a diretora da escola me trucidava com os olhos). A minha luta foi em vão, mas ao que sei as aulas de substituição continuam, 9 anos depois, a não funcionaram muito bem. E os professores no desemprego...!


Tantas coisas em que não concordo e que parecem nunca mais voltar atrás. Tantas coisas que a evolução nos tráz. Coisas que mudaram para melhor ou não, mas que só quem por lá passou sente nostalgia.
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2 Comentários fofinhos
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2. Não tenho a certeza mas sei que na altura fiquei escandalizada. Qual é a ideia? Se fosse hoje haveria uma televisão a fazer notícia, os exames seria considerados inválidos e... sei lá. Naquela altura acredito que não sendo o teu caso único não foi superior a 0,01%! Eu digo mais. No meu 12º quase muito poucos sabiam mexer com um computador. É incrível não é?

3. Em relação a isto, eu apoio a causa, tu sabes. Provavelmente nunca teria coragem para a defender mas apoio a 100%. Eu acho que o problema é que a nossa sociedade acha o tempo proporcional ao efeito. Quando entrei para a primária sugeriram à mãe eu ficar em casa mais um ano porque a professora era má PORQUE marcava poucos trabalhos de casa. Marcava pois e eu fui muito feliz na primária e não me faltou preparação. Mesmo no mundo do trabalho, já vi um ou outro caso em que é mais valorizado alguém que passa 10h a fazer niente mas está muito tempo "no posto" porque "trabalha tanto" do que uma que quem cumpre e supere os objectivos mas sai cedo. É ridiculo.

E se não posso lutar contra o sistema mas posso sempre que possível explicar pontos de vista. E aqui e acolá vou conseguindo atrair apoiantes. Lentamente...

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Eu concordo com o tentar mudar mentalidades aos bocadinhos. É a história do mosquito ser pequenino, mas ser capaz de fazer mossa a muita gente!

Mas acho uma pena mais trabalho ser trabalho e mais realização, como mais tempo!

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