Explicas-me como é que isto se faz?

Não sou professora, mas dou explicações. Não escolhi dar explicações. Pediram-me. Ao princípio fiquei reticente, não sabia se iria estar à altura. Mas como não tive muita escolha embarquei na aventura e prometi dar o meu melhor. 

Há quatro anos atrás venderam-me o caso como perdido. As reduções entre unidades métricas eram a coisa mais difícil que ele aprendera até à altura e não havia forma da criança aprender tal marosca. Nem a criança, nem o resto da família. Os decâmetros e os hectómetros eram desconhecidos até então e via-se o fim da picada a meio do quarto ano do primeiro ciclo.

A verdade é que entretanto tive opção de escolha e quis continuar. Já apareceram outros meninos e eu só disse que não quando não tinha tempo para dormir. Gosto muito de trabalhar com crianças, mais se for uma de cada vez. Mais do que uma mói-me o juízo. Não que corra mal. Mas exige demasiado esforço da minha parte a mantê-los sossegados. Energia útil desperdiçada, basicamente. 

Gosto muito dos meninos a quem dou explicações e eles gostam muito de estudar comigo. Gosto de lhes espicaçar a curiosidade. Gosto das pequenas experiências que fazemos e dos jogos que tenho no ipad para que seja mais fácil aprender. E acho que é por isso que corre tão bem.

No meio disto tudo não me imagino a dar explicações a alguém do ensino secundário - além de achar que aqui, na maioria dos casos, devem ser professores a fazê-lo. Onde é tudo muito a sério e deve ser encarado como tal. Onde o Jogo do 24, a força centrípta de um peso na ponta de um fio a girar não tem graça, e onde fazermos joguinhos para decorar os símbolos dos elementos químicos já não faz sentido, nem é onde se deve perder tempo. A partir do ensino secundário é preciso incutir responsabilidade e não gosto. O gosto tem de vir de trás. Não é suposto um aluno dessa idade ver num íman um fenómeno awesome, nem faz sentido tentar dissolver azeite em água.

Além da forma de estudo ter de ser diferente, eu acho que no ensino secundário a maturidade tem vindo a diminuir. Acho que se quer ser crescido e com responsabilidade de criança, cada vez mais. O papel dos professores e dos educadores é muito difícil assim. É difícil estar no meio termo entre o chato-que-só-me-fala-de-responsabilidade e a pessoa com quem é mesmo agradável aprender.

Por isto tudo, gosto das horas que 'gasto' a dar explicações. Gosto dos jogos que não apago do ipad por eles. E queria que ficassem pequenos e de olhos arregalá-los, sempre que lhes conto que se eu juntar dois ímans de pólos opostos eles não se juntarão, para sempre.
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