Vício

No comboio cruzamo-nos com todo o tipo de pessoas. Desde o mais intelectual ao mais vagabundo, do mais extrovertido ao mais interiormente indignado. 

Hoje, no comboio, em frente a mim, vai um senhor que nestas escalas está no ponto desleixado e extrovertido. É nervoso. Já perguntou várias vezes a que horas chegamos ao Porto. Entre elas, despejou o seu masso de cigarros várias vezes. Rasgou em pedaços pequenos uma parte da embalagem. Arrumou-os e encostou-se ao vidro com intenção de descansar. Respira fundo. Tão fundo e profundamente que incomoda os quatro passageiros do outro lado do comboio. Vai falando. Reclamando. Não sei se sonha ou se é só o nervosismos de chegar. Em cada paragem exalta-se, verifica se já chegamos e torna-se mais irrequieto com a desilusão. "Sabe, disseram-me que demora uma hora de Aveiro ao Porto. Mas assim, a parar a cada 5 minutos, vai demorar mais. Sempre. Para sempre de 5 em 5 minutos". Se o homem fosse parvo até lhe respondia. Dizia-lhe que se está tão ansiosinho para da próxima vez vir num alfa que o comboio é assim todos os dias, não há nada que lhe possamos fazer. Mas o pobre bomem é só nervoso, irrequieto e ansioso. Não é parvo. Respondo-lhe "pois..." e sorrio. 
Chegamos a Campanhã e ele repetiu "Pára de 5 em 5 minutos. Vai demorar mais de 1hora." Disse-lhe que ficaríamos ali parados 5 minutos. E com isto esqueceu-se da pressa de chegar. Sorriu. Pareceu-me menos nervoso. Mais feliz. Tirou um cigarro, desta vez só um. E exclamou "obrigado! Assim já posso fumar!".

Vícios. Os malditos dos nossos vícios.
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