Sobre a primeira impressão de saudades

Há vários tipos de saudades. A das pessoas, a dos hábitos e rotinas, dos trabalhos e atividades, dos espaços, dos momentos. E já experimentamos de todas um bocadinho.

A primeira vez que sentimos saudades foi na única despedida que me custou. Os sacanas dos bebés, ainda que com 2 meses de idade, roubam-nos o coração; não fazem ideia do que se passa à volta deles e mesmo assim, com gracinhas e sorrisos inocentes conseguem pôr-nos a questionar algumas coisas. Acho que a grande diferença para os adultos é que estes não vão mudar muito, não esperamos surpresas e novidades deles. Já dos bebés, ainda que com 2 meses de idade, repito, surpreendem sempre e enchem-nos de amor quando até por skype interagem connosco!

Para mim, todos os restantes "até já" foram tranquilos, foram apenas um passo, uma transição para uma volta, num dia destes, com algumas diferenças. Para o Pedro não foi tão fácil. Eu sou menos saudosista, mais fria e já experimentei morar fora do meu país por uns tempos; acho que a diferença vem daqui. Além disto, no primeiro dia cá, o Pedro fez anos. Eu fiz-lhe um bolo, acendemos muitas velas e cantamos os parabéns. Mas, infelizmente, o número de velas não enche uma casa como as pessoas todas que lhe costumam cantar os parabéns. Aqui foi duro e eu compreendo.

Depois foi o meu primeiro dia sozinha. O Pedro foi trabalhar, eu fiquei. Senti saudades. Não gosto de passar um dia inteiro a ouvir-me a mim própria. Não sou boa como dondoca e estar em casa entedia-me. Senti saudades da azáfama que é a minha casa em Portugal, dos cafés para onde ia trabalhar, dos meus explicandos, dos meninos do futebol, senti saudades de coisas palpáveis para fazer, do meu mundo de fogos por apagar. Felizmente, o segundo dia foi mais fácil, aqui também há bons cafés para trabalhar.

Entre estes primeiros dias, como forma de compensar as saudades, falamos do quanto queremos voltar por muito que a experiência já esteja a ser extremamente enriquecedora. Eu quero voltar, como sempre disse, mas sei que era capaz de ficar. Sei que depois de um ano já existem raízes e muitas coisas boas, ainda que num país onde não dominamos a língua. O Pedro não me deixa sequer pôr em causa voltar. Acho que mais do que as oportunidades, vai ser a gestão das saudades, do quanto somos mais felizes com ou sem elas, que vai ditar a nossa estadia cá.

Sempre ouvi dizer que o amor comanda a vida e as saudades não são nada mais do que amor.
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4 Comentários fofinhos
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Tão bonito Sara :)
Eu digo e repito: gosto muito (e acho maravilhoso) terem ido, faz muito, muito bem mas... Quero mesmo que voltem nos próximos anos :) Não se podendo comparar ao presencial mas sendo o melhor que arranjamos, prometo que o Du será sem dúvida um bebé 2.0 e vai continuar a marcar presença assídua no skype!Vera

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A tua mensagem quase me fez chorar e causou-me alguma nostalgia precisamente por escreves tão bem e consegues fazer-nos estar aí contigo!
A saudade é a minha constante de vida e tu bem sabes :) Sofro desde criança a aprender a viver com ela. Hoje, pela primeira vez, consegui que alguém a defina como eu a sinto no meu coração.
Vivo com saudades da minha casa, dos meus pais, da minha sáfi, dos meus irmãos, dos meus sobrinhos... e às vezes até de mim :) afinal de contas... saudades... e agora, TUAS.
admiro-vos. Força, aproveitem ao máximo mas voltem!
Cá vos espero e muito em breve. Antes de termos bebés :)

Gosto muito de vocês!

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Este comentário foi removido por um gestor do blogue. - Hapus
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Tão querida! É verdade, nunca tinha pensado nisto, mas saudades é uma palavra que te define em grande parte!

Havemos de voltar, vais ver. Por enquanto a tecnologia ajuda a tornar tudo mais fácil :)

Beijinho grande <3

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