Se fosse hoje

Nestes três meses percebi que se voltasse atrás no tempo teria feito muitas coisas diferentes. Não necessariamente teria estudado mais. Todos os dias descubro que não é isso que faz a diferença e as minhas capacidades, as inatas e as desenvolvidas são mais do que o suficiente para aprender qualquer trabalho que me possam pôr à frente. Isso e o gosto por saber mais, o gosto por querer aprender mais são o mais importante. O que teria feito mais?

Na loucura das loucuras, tinha tentado tirar um curso noutro país qualquer. Um curso diferente, muito provavelmente, mas essencialmente algo mais prático. Lembro-me muito bem da minha candidatura para a universidade e a ordem, hoje, teria sido muito, muito diferente. Ou então nenhuma daquelas opções lá estaria porque aos 18 anos é impossível saber-se o que se quer fazer e o que se gosta mais, nessa altura é suposto gostar-se de muitas coisas. Talvez nem tivesse entrado na universidade logo. Se soubesse o que sei hoje, não me tinha sucumbido à rotina que nos impõe, que primeiro se estuda depois se trabalha. E, na verdade, ninguém tem culpa disso. É uma questão de sistema. É um resquício dos loucos anos 80 e 90 em que qualquer um com um curso tinha bons empregos. Entretanto as coisas mudaram. Somos demasiados com cursos e demasiado poucos com funções técnicas e, agora, são os técnicos quem tem muito trabalho.

Nestes três meses percebi que o percurso que se faz no centro da Europa é muito mais lógico e é feito desde há muitos anos. Estudar sim, mas trabalhar também. Não há estágios não pagos por princípio, embora comecem a surgir esses tristes casos. Há muitos trabalhos de verão, muitos trabalhos para estudantes e adolescentes que podem decidir não estudar aos 18 anos porque têm dinheiro para viajar ou para o que bem lhes apetece. O nosso ensino profissionalizante (acho que não é bem este o nome que se dá atualmente, mas a ideia é a mesma) é menosprezado e bastante facilitado. Talvez não seja facilidade, mais leviandade. Depois, como até aos 18 anos estudamos exclusivamente, a responsabilidade e maturidade desenvolve-se mais tarde e é uma sardinha de rabo na boca.

Nestes três meses percebi que o meu currículo é bom. Mas que a falta de experiência de trabalho em empresas faz toda a diferença. Não fico atrás dos outros candidatos porque não tenho uma média xpto, fico atrás deles apenas porque o curso que tirei não serve diretamente para nada e porque aqui, todos os estudantes universitários trabalham durante o curso.

A realidade é que me deparo com estas questões mas não me arrependo de nenhuma das decisões que tomei, dentro do contexto em que sempre estive. O curso tem muito de interessante e de relevante academicamente e, na verdade, durante o curso também trabalhei e aprendi coisas muito diferentes. Mas de formas menos formais, exatamente por imposição do sistema. No entanto, se fosse hoje...
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