Amesterdão - parte 1


Amesterdão é uma cidade peculiar que vive entre o triiim triiim dos ciclistas, as casas bonitas e inclinadas, as luzes vermelhas das montras, os canais rua sim, rua não e o tom nublados das coffeeshop. É a capital da Holanda, mas nem por isso é a sede do governo. Os seus habitantes não são comuns mortais iguais aos restantes holandeses e os canais são o encanto da cidade.

Ah, mas desenganem-se se acham que lá é tudo bom. Muitos nervos me fizeram os ciclistas e os turistas e o mau tempo e as filas e os hotels e tudo e tudo. Está tudo contadinho a seguir e se há cidade onde eu não tenho nenhuma vontadinha de voltar - ainda que seja tudo muito recente, é lá. Não quero, não e não.


Amesterdão não gosta de turistas. 
Ou talvez sejam os seus habitantes e as suas bicicletas.

Sempre que podia, a minha mãe não me deixava sair de casa de bicicleta e aposto um dedinho do pé que se tivesse crescido em Amesterdão, não me deixaria andar a pé. Há ciclovias em toda a cidade, todinha mesmo. Não há passeios para peões em todinha a cidade e poucas passadeiras. Os ciclistas e habitantes da cidade que se deslocam nas suas vidas diárias exclusivamente de bicicleta passam-se com turistas que lhes invadem as ruas e que quando não veem passadeiras, ou quando as faixas das bicicletas não estão sinalizadas, ocupam-nas. Eu também não gostaria, mas não é solução passar o dia entre o triiiim triiiim irritante das campainhas das bicicletas, entre raspões e encontrões a peões e não cedências de passagem em passadeiras. NÃO, holandeses, não! Também aconteceu estarmos num passeio e um outro peão nos dar um encontrão só porque tinha pressa. 

Ainda que as amigas que moram na Holanda insistam em ressalvar que os habitantes de Amesterdão não são uma boa amostra do que é um holandês e que as regras de trânsito são respeitadas nas outras cidades, eu não consigo ficar com outra impressão deles. E, pior, já que costumo não ser muito esquisita, espero nunca ter de ponderar morar entre eles!



Agora uma coisa boa e bonita: as casas.

Sabiam que grande parte delas são/estão tortas e inclinadas? Como a cidade é construída por cima de um pântano, a estrutura da base é madeira, que se vai afundando lentamente. É uma curiosidade bem interessante, mas igualmente assustadora. O guia de uma tour que fizemos disse que afundava cerca de um centímetro por ano e que os moradores mal notavam. O que a longo prazo deve ter imensa graça com tudo o que se coloca nos móveis a escorregar. 

Além da inclinação, as casas holandesas têm duas outras peculiaridades: janelas muito grandes e escadas estreitas e inclinadas. Acontecia devido à lei que existiu para que os impostos das casas fossem pagos proporcionalmente à sua largura de frente. Quanto às escadas, tinham de poupar espaço e as janelas e inclinação para a frente era a forma de facilitar a entrada para os móveis.



Amesterdão está na moda e eu acredito que seja pela diversão.

Decorria o século XVII, idade de ouro holandesa, quando se formou a Companhia Holandesa das Índias Orientais, empresa que chegou a ter 50 mil funcionários e 150 navios. Como tal, os navegadores que chegavam após longas expedições e meses no mar, procuravam diversão. A prostituição e as tabernas ascenderam a números elevadíssimos, mantendo-se ao longo dos séculos em Amesterdão e sendo hoje uma verdadeira razão para atrair turistas.
Se por um lado a existência de um bairro que vive quase exclusivamente da indústria do sexo e das drogas pareça absurda, o que acontece aqui é uma procura para melhores condições de vida, respeito pelas opções de cada um e a ocupação do tempo dos polícias com assuntos mais importantes. As prostitutas que dançam semi-nuas em monstras com luzes vermelhas (ou azuis, no caso dos transsexuais) são legais, pagam impostos e não podem estar nas ruas. O estado procura garantir que elas não são obrigadas a nada, que trabalham por conta própria e que tenham sempre pelo menos 21 anos. Com isto diminui-se a marginalização e o tráfico de mulheres, mantendo as ruas com um aspeto apresentável e passando a ser característico em vez de imundo.
Relativamente à despenalização da venda de drogas leves, o fornecimento de drogas não é legal, sendo obscura a forma como as Coffeeshop adquirem o produto. No entanto, é legal a venda de quantidades para consumo pessoal dentro das Coffeeshop. Desta forma, os polícias focam-se na caça de traficantes de drogas pesadas. Na minha opinião, isto não tem nada de grave desde que se garanta a idade mínima dos consumidores e a respetiva informação do que estão a consumir.
Eu cá gostei do Red Light District, diverti-me ao ver muitos homens com ar de parvos a olhar para as meninas das montras e ainda me senti uma teenager a quem pedem identificação na entrada do bar. Pensava que estava finalmente a envelhecer, mas afinal continuo a ter, alegremente, 17 anos.

Ainda falta contar sobre os museus onde fomos, sobre os hotéis onde ficamos, sobre os preços loucos de tudo e algumas ideias de como eu os reduziria se voltasse a lá ir. Falta também contar de como é bom ter amigos por aí e vê-los crescer e voar mais alto. 

Falta contar-vos o que aprendi de mais essencial desta viagem. E isso, fica para amanhã.
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