Porto, Espinho, o cabelo e os amigos

Aproveitei que os meus pais iam voltar para casa e fui com eles até Portugal. Estava com falta do Porto. Passei os últimos seis anos essencialmente por lá. Fiz amigos e é sempre lá que os revejo. Há por isso uma parte de mim que lá pertence. Às vezes uma parte mais forte do que a Espinho, mas provavelmente são só raízes diferentes que me prendem e me fazem querer voltar. Adorava morar no Porto, mas acho que Espinho tem um encanto diferente, uma facilidade diferente e o dom de ainda conhecermos toda a gente, o dom dos cafés infindáveis onde reconhecemos casa. Onde há clientes que parece que lá moram, que já fazem parte do cenário. E no Porto nunca senti isto com tamanha intensidade. Mas senti muitas outras coisas boas. Muitos amores bons. Muitos recantos de histórias, muitos lugares novos sempre por conhecer, uma intensa transformação que conserva o velho da cidade tão mais bonita, quanto mais velha. Assim mesmo. É o mesmo que dá ao vinho do Porto um toque único, velho e doce.

É o Dom Quixote, o Sancho Pança e o Rocinante. Está pintados numa perpendicular à Rua Miguel Bombarda numa parede enorme.
Como dizia, voamos para Portugal. Às 9h já lá estávamos e fomos de metro para ao centro. Mostrei aos meus pais o novo mercado do Bom Sucesso, que adoro. Tomamos o pequeno almoço na Leitaria da Quinta do Paço e caminhamos até ao Palácio, depois pela Miguel Bombarda, espreitamos a igreja dos Clérigos que, pelo que sei, tem novidades e tenho de lá voltar. Descemos a caminho da Estação de São Bento, contornamos o antigo Mosteiro das Cardosas e seguimos pela Rua da Alegria, que está sempre mais alegre. Além das pinturas nas caixas, está a ganhar mais flores e o sol que batia naquela manhã, tornava-as ainda mais bonitas. Paramos no largo de S. Domingos, sentamo-nos numa esplanada e comemos uma francesinha numa tasca qualquer. Não era uma francesinha maravilhosa, mas era uma francesinha, comida a par de uma Super Bock. Sensações de emigrantes, como podem imaginar.


Depois em casa, percebi que era domingo e no dia seguinte segunda. A minha cabeleireira não trabalhava e eu já não aguentava o calor daquele cabelo. Fui ao shopping, despachei uma série de coisas que tinha de lá fazer, e procurei o cabeleireiro. Tive medo. Estava um miúdo com um penteado pior do que os dos jogadores de futebol. Temi o meu cabelo, mas precisava. Sim, poderia ter cortado cá, mas além do preço, tive medo que não comprendessem o que eu queria. Pedi um corte certo pelos ombros, fácil. A menina perguntou se podia cortar um poucomais atrás do que à frente. Como sou dada a mudanças, disse-lhe que sim. Não foi muito bem conseguido... o meu cabelo liso arrebita as pontas quando é cortado. Saí do cabeleireiro que nem Amélie Poulain. Conclusão: não gostei do resultado e só agora, um mês depois, está a ficar aceitável. Acontece. Havia mais a resolver. Desde o dentista à visita ao sobrinho. E à cadela, que me reconhece e comporta-se como sempre. Procura o meu colo e lambe-me toda. Gosta de cafuné e até me deixou que a abraçasse por mais de dois segundos. Passou muito muito rápido. Mas ainda deu para uma corridinha  entre tudo o que queria fazer, deu para encontrar amigos, dos quais aqueles que não consegui ver da última vez que lá estive. Ainda, sem querer, encontrei outros e fui ao café com eles sem combinar, como se lá estivesse, como se isto fosse fácil, como se fosse tudo realmente próximo. E, por isso, apenas por isso, custou-me voltar. Porque eles me fazem falta, porque a amizade pede mais do que internet. Porque, agora compreendo, erasmus foi fácil simplesmente porquer seis meses são fáceis e são sempre de descobertas. Mas depois faltam as pessoas e os cheiros que não cabem na internet. E é por isso que me custa saber que nos próximos tempos, as visitas a Portugal serão mais curtas, sem tempo para todas as pessoas e todos os cheiros.

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