A pior coisa que a idade nos traz é o medo. Perder a capacidade de ser um livro aberto pronto a ver, experimentar e aproveitar, sem preconceitos quanto às coisas, às pessoas, às sensações. Sem preconceitos quanto a relações, a perfeições, a erros.
A pior coisa que a idade nos traz não são as rugas físicas, são as mentais. São as dobras que vamos dando ao que conhecemos e às dobras que damos sobre as dobras. Damos dobras que nos fazem achar que tudo tem um só sentido, que depois não tem. Fazemos uma dobra para achar que a felicidade tem de ser uma constante e depois temos medo do imprevisto, da morte, da separação, do lado mau da rotina. Fazemos uma dobra que marca o que é bonito e saudável e o que é normal deixa de ter beleza. Fazemos outra dobra no que planeamos e decidimos para a vida e depois não sabemos desdobrar para que a vida suba e desça ao seu ritmo.
Acho que o pior que a idade nos traz é tanto pior quanto melhor foi a vida que nos proporcionaram. Acho que o medo é o pior e o maior quando choca com os pilares sobre os quais nos encavalitamos, como andas, que mais tarde percebemos que não são feitas de ferro, mas de madeira que se pode corroer com o caruncho. E quando aparecem uns buraquinhos nessa madeira, o medo faz-nos sentir que está tudo perdido. Mesmo sem tentar tratar, mesmo antes disso. Descemos das andas e choramos debaixo delas.
O medo faz-nos dobrar. Dobrar o que achamos que aprendemos, vergar como se o peso da alma nos marcasse a coluna. E o medo, o peso da alma que nos verga, é o pior que a idade nos traz.